Semanas atrás assisti com muito interesse um painel envolvendo a participação de importantes lideranças do segmento de serviços financeiros, como Curt Zimmermann, CEO do Bitz, e Giancarlo Greco, CEO da Elo, além de consultores deste segmento.
O assunto girava em torno das criptomoedas e o futuro do dinheiro, e das tendências dos criptoativos. Importante neste contexto ressaltar a liderança do Banco Central do Brasil (BCB), através do seu presidente Roberto Campos Neto, um entusiasta da adoção da tokenização da economia, da monetização dos dados e da criação de um criptoativo nacional já em curso. Campos Neto e o BCB se desdobraram definindo um novo contexto regulatório, que empurrou as instituições financeiras para uma avalanche de inovações nos seus serviços.
Estendendo esta perspectiva para o plano global, mais de 80 bancos centrais ao redor do mundo também desenham suas novas moedas digitais baseadas em criptoativos e na tecnologia blockchain, sendo que no Brasil já existem cerca de 20 pilotos em curso com as instituições financeiras num programa coordenado pelo BCB.
Na leitura destes experientes executivos, o fator determinante para levar estes ativos digitais ao mainstream é, fundamentalmente, o denominado “custo de servir”. Neste painel, Curt, com muito fundamento, sinalizou que não podemos descartar que adoção destes novos ativos poderá exceder as expectativas, especialmente se considerarmos o sucesso da adoção do sistema de pagamento instantâneo PIX, que já acumula mais de 28 bilhões de transações desde o seu lançamento, motivados pelo seu baixíssimo custo e alta flexibilidade.
Mas o centro da questão não reside apenas no meio monetário: há uma visível ambiguidade no papel futuro dos bancos neste cenário de criptoativos digitais, onde as transações poderão ser desintermediadas (P2P, Peer-to-Peer ou Pessoa-a-Pessoa).
Enquanto os ativos digitais possibilitam rastreamento e enormes facilidades de liquidação instantâneas por micro serviços, o papel dos bancos como intermediários fica mais difuso, sinalizando que, embora operações de crédito e investimento
claramente continuarão sob a tutela das instituições financeiras, já o fluxo monetário de liquidação de transações poderá ter os bancos apenas como repositórios, mas ainda assim num contexto ambíguo.
Dado o cenário desta enorme onda de transformação, fica a questão principal: Qual é o principal papel de um profissional de uma instituição financeira em meio à este vendaval de inovações? Tudo aponta que a principal característica deste novo
profissional seja a sua habilidade como agente transformacional, e a capacidade de visualizar oportunidades em meio à muita ambiguidade. Será fundamental para os bancos estabelecer parcerias com empresas que dominem com maestria a digitalização de todos os processos empresariais, através da implementação efetiva de micro serviços em nuvens computacionais..
O ativo digital brasileiro do BCB está logo aí. E com ele um futuro muito interessante, com muitas inovações.
Anote aí: você será cripto também.
Luiz Fernando Maluf, 66, engenheiro com pós em economia, responsável pela área de Financial Services da DataRain S.A.